Resumo de mercado – Março/2025

Cenário Internacional 

No palco internacional de março, os ventos da economia americana sopravam com uma mistura de resiliência e incerteza, como se estivéssemos assistindo a um balé cuidadosamente coreografado, mas com passos que ainda deixam o público apreensivo. A atividade nos EUA, medida pelo ISM e pelo PMI, se mantém constante, quase como um metrônomo que marca o compasso dos serviços e da indústria – firme, porém sem a redução necessária para domar completamente a inflação. Apesar do arrefecimento sutil do crescimento no fim do ano passado, o Banco Central Americano permanece em alerta, focado na tarefa de reduzir aquele “último quilômetro” da inflação, que insiste em se manter acima da meta.

Enquanto a atividade econômica segue firme, os sinais do mercado de trabalho mostram uma leve desaceleração. A variação de empregos, medida pelo ADP, se estabilizou em torno de +140 mil, um patamar historicamente elevado para uma política contracionista, porém, a redução das médias anuais sugere uma certa sensibilidade às políticas contracionistas do FED. Os pedidos iniciais por seguro-desemprego continuam em níveis que remetem ao período pré-pandemia, perto dos 220 mil, apesar de uma pequena tendência de alta que levanta questões sobre o futuro do emprego nos EUA. Além disso, a oferta de empregos, que vem uma trajetória de queda desde 2022, agora levanta a incógnita de quando essa redução começará a afetar os postos existentes, com os últimos meses deixando uma pista de que talvez uma mudança esteja por vir.

Enquanto isso, a inflação – um fantasma que teima em não desaparecer – oscila em torno de 2,8% anual. A narrativa do “soft landing”, ou pouso suave, ganhou força, sugerindo que, com o tempo, a economia americana poderá suavemente aproximar-se da meta de 2%, mesmo que cada passo pareça um esforço titânico. Ao mesmo tempo, as medidas protecionistas de Trump, como tarifas que se impõem com a rigidez de um portão fechado, complicam ainda mais o cenário. Essas tarifas, à época, ainda não se sabia qual impacto teriam, contudo, elevariam os custos preocupando o comércio global. Transformaram-se num prenúncio de um possível choque econômico e por consequência os títulos de 10 anos dos EUA voltaram a subir, anunciando um recado claro aos investidores.

Cenário Nacional

No cenário nacional, o Brasil tem vivido uma verdadeira contradição. Depois de 2024 surpreender, com um crescimento de 3,5% impulsionado por fortes incentivos à atividade econômica, este ano a projeção se moderou para algo em torno de 2% (1,97%). Essa desaceleração vem justamente de um jogo entre duas políticas antagônicas: por um lado, a política fiscal expansionista do governo, que insiste em injetar recursos para estimular o consumo, e, por outro, a postura contracionista do Bacen, tentando conter a inflação com medidas de aperto monetário.

No mercado de trabalho, o quadro continua robusto, superando as expectativas contracionistas. Os números de variação de empregos registraram os melhores índices do novo Caged, mostrando que, de alguma forma, os impulsionamentos fiscais estão conseguindo manter o aquecimento do setor, mesmo diante das medidas de restrição. Contudo, esse vigor na atividade tem trazido desafios. Com a economia funcionando acima do esperado, as expectativas de inflação se desancoraram, e, apesar dos esforços para desacelerar os preços, o “último quilômetro” – aquele esforço final para alcançar o limite da meta (4%) – ainda encontra resistência, mantendo a inflação acumulada em torno dos 5%.

Além disso, a sustentabilidade da dívida pública permanece no radar do mercado. A crescente preocupação com juros elevados por um período prolongado tem feito com que os financiadores passem a exigir taxas maiores, refletindo dúvidas quanto à capacidade do Brasil de honrar seus compromissos com um orçamento que, muitas vezes, parece engessado. Essa situação é agravada pela persistente falta de comprometimento com o equilíbrio fiscal, evidenciada por comunicados de tom fortemente eleitoral, que remetem à incerteza sobre uma eventual alternância de poder.

Dia da Libertação

O cenário econômico global já vinha tenso, mas o início de abril trouxe uma reviravolta que ninguém poderia ignorar: o tarifaço de Trump. Batizado de “Dia da Libertação”, o pacote de tarifas recíprocas anunciado em 2 de abril impactou mais de 180 países, com alíquotas variando entre 10% e 50%. O impacto foi imediato—e estrondoso.

A China, que historicamente não deixa medidas assim sem resposta, anunciou tarifas de 34% sobre produtos dos EUA, aumentando a temperatura do conflito. O mercado acionário chinês foi um dos mais afetados, com empresas vendo suas ações despencarem diante da incerteza quanto ao futuro do comércio global.

E para o Brasil? O efeito ainda é um grande ponto de interrogação. A imposição de tarifas nos EUA tem um impacto natural sobre a economia global, potencialmente reduzindo o crescimento mundial e esfriando a demanda por commodities—um setor vital para o país. Nos primeiros instantes, parecia que tinhamos saídos vencedores com uma tarifa adicional de apenas 10% sobre as nossas exportações, porém, não foi bem assim.

Se março foi marcado por uma economia tentando encontrar equilíbrio entre inflação e crescimento, abril começou com um forte elemento de incerteza. O mundo está atento às próximas jogadas dos EUA, da China e de outros países que podem entrar nessa guerra tarifária. E como sempre, mercados não gostam de incerteza.

Tio Sam e a Montanha-Russa

O mercado internacional já vinha operando em um ambiente de incerteza, mas o tarifaço de Trump adicionou uma nova camada de volatilidade. O grande questionamento agora é: quão forte realmente está a economia dos EUA?

Os números divulgados em fevereiro já indicavam certa fragilidade em setores-chave, e a imposição de tarifas pode amplificar esses desafios. O protecionismo do “Make America Great Again” levanta dúvidas sobre o real impacto dessas medidas:

  • Isso pode desencadear uma recessão?
  • Trump está apenas blefando para ganhar vantagem em acordos bilaterais?
  • Essa disputa comercial pode escalar para um conflito geopolítico mais amplo?

O reflexo imediato foi um aumento brutal na volatilidade. A primeira semana após o anúncio das tarifas foi um verdadeiro teste de nervos para o mercado, com oscilações que não eram vistas há anos. As bolsas americanas sofreram um tombo histórico em março, chegando a cair 12% em um único mês. No entanto, o cenário virou rapidamente: em 9 de abril, o S&P 500 disparou quase 10% em um dia, e o Nasdaq subiu quase 12%, mostrando que os investidores ainda tentam precificar as novas condições do jogo.

Em resumo, a imprevisibilidade está no comando. As bolsas americanas já começaram a rodar entre quedas bruscas e recuperações violentas, e a leitura do mercado sobre as tarifas de Trump será determinante para os próximos passos da economia global.

Brasil: entre tapas e beijos…

O Brasil entra no segundo trimestre de 2025 envolto em incertezas políticas e fiscais, enquanto a guerra tarifária global domina o cenário externo. A possível desvalorização do dólar pode aliviar pressões inflacionárias internas, mas o principal problema segue sendo a sustentabilidade da dívida pública, ampliada pelo alto custo dos juros e pela falta de compromisso com o ajuste fiscal.

A combinação de um orçamento engessado, juros elevados e um governo focado nas eleições de 2026 coloca as contas públicas em xeque. A popularidade do governo atingiu patamares críticos, levando a uma reforma ministerial para conter a insatisfação e garantir o apoio do Centrão. O que preocupa o mercado é até onde o governo está disposto a ir para manter-se no poder.

Meu passado me condena

O histórico recente não é animador. A PEC Kamikaze, criada no governo passado para impulsionar a reeleição, comprometeu severamente as contas públicas. O atual governo, ao invés de buscar um ajuste fiscal rigoroso, adotou a narrativa de que precisaria gastar ainda mais para corrigir os danos anteriores, o que criou uma bola de neve fiscal.

Sabendo disso, o governo aprovou o orçamento de 2025 e trouxe um indicativo de superávit de apenas 0,25% do PIB, muito abaixo dos 3% recomendados por economistas para estabilizar a dívida. Isso reforça o pessimismo do mercado em relação à trajetória fiscal do Brasil.

No lado econômico, o PIB do 4º trimestre veio mais fraco do que o esperado, sugerindo um arrefecimento da atividade econômica. Em um contexto inflacionário, isso pode ser positivo para a redução da inflação, mas também abre espaço para discussões sobre uma possível recessão técnica no Brasil.

Contudo, o tarifaço não apenas bagunçou o tabuleiro — ele o virou de cabeça para baixo e incendiou as peças. Antes, nossa maior preocupação era a inflação, impulsionada por uma economia global resiliente. Agora, a possibilidade de uma recessão global entra em cena, e essa alternativa também está longe de ser confortável.

A forte queda do petróleo, um dos principais pilares de arrecadação do país, adiciona um novo elemento de risco. Se antes o problema estava nos juros elevados e no impacto sobre a dívida, agora surge um novo temor: a perda de receita. No fim das contas, nossa frágil postura fiscal nos condena a um ciclo de incerteza constante, onde cada solução traz consigo uma nova preocupação.

Próximos passos

No cenário internacional, a volatilidade permanece a flor da pele. As incertezas geradas pelo tarifaço de Trump, combinadas com as dúvidas sobre a real força da economia dos EUA e os efeitos das medidas protecionistas, indicam que o mercado global pode seguir num clima de instabilidade. É provável que o FED mantenha os juros por mais tempo até que os efeitos completos dessas tarifas e a pressão inflacionária sejam decifrados. A expectativa é de que, a médio prazo, possamos ver uma rotação nos investimentos, com o dólar enfraquecendo em relação a moedas europeias e asiáticas, refletindo uma mudança no equilíbrio do comércio internacional.

No cenário nacional, o Brasil enfrenta desafios já conhecidos. Embora o crescimento econômico recente tenha superado expectativas, o país segue marcado por uma postura fiscal imprudente, com uma dívida que continua a crescer e receitas ameaçadas pela queda dos preços do petróleo. O ambiente político, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte, intensifica essas incertezas, já que medidas expansionistas podem continuar a pesar sobre as contas públicas. Isso, por sua vez, pode manter a taxa Selic em patamares elevados — possivelmente chegando perto dos 15% — até que uma eventual desaceleração econômica permita um ajuste para baixo.

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